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Foto do escritorCampanha Nacional pelo Direito à Educação

"A nossa voz da periferia precisa ser ouvida"

por Abner da Silva Bittencourt, 16 anos, primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual de Ensino Médio Firmino Acauan

O adolescente Abner posa para foto tirada à noite, em ambiente externo. Ele veste jaqueta azul-marinho, camiseta vinho e boné vermelho. Ele sorri. Tem a pele parda.

O início de 2020 foi semelhante aos demais, um ano que muitos

acreditavam que seria melhor do que todos os outros anos, onde víamos muitas tragédias na televisão. E no fim não foi bem como pensamos.

Janeiro foi um mês no qual estávamos em férias ainda, ansiosos e ao mesmo tempo inseguros com as mudanças. Muitos que se formaram estavam com receio de como seria o ensino médio, por justamente ter mudanças radicais.


A escola nova, o distanciamento de diversas pessoas do fundamental, o baque de conhecer pessoas novas, ter matérias novas e a pressão de todo o acúmulo, pois é estressante perceber que tudo isso e normal.


Infelizmente antes de aprender a lidar com todas essas situações

novas e inesperadas, tivemos mais uma mudança. Televisões e jornais

apresentavam um possível risco vindo de um vírus. E então começamos a ouvir, de um lado que tudo aquilo era passageiro, que era jogo do governo e do outro lado, que os fatos eram sérios e que pessoas estavam morrendo todos os dias, causando uma enorme confusão nos pensamentos.


Nossos dias ficaram diferentes: "sem toque", "sem dividir as coisas, como

utilizar a garrafa"... Novas formas de aprender na sala de aula, sem divisão e

toque. Com o passar dos dias, a consciência de todos foi pesando, afinal,

pessoas estavam morrendo, e por mais que uma minoria ainda ignorasse esse fato, muitos cumpriram seu papel corretamente. Os abraços, os beijos e os amigos que estavam ao lado deram lugar ao álcool gel.

O medo tomou conta de cada um, pois somos jovens e fazemos parte dos

"3%" que podem ser contaminados, devido à idade e à imunidade. Medo de

fazermos parte do número de pessoas que são motivos para os médicos

decidirem entre a nossa vida ou a morte. Começamos a ser movidos por medo, medo de pegar e contaminar nossos entes, medo de alguém importante se contaminar e ver partir. Tudo virou medo!

Então as aulas, empresas e pessoas pararam. Tudo parou! E com a evolução da quarentena, pudemos perceber o quão bem fez ao nosso meio ambiente o ser humano estar fora das ruas, estar cuidando de si e do outro, sem contato. O número de contaminados subiu novamente, pois muitos não levaram a sério o isolamento social, a hipocrisia de algumas pessoas apareceu e vários sentimentos foram misturados, de ajuda, de conforto, de insegurança.

O mais preocupante são as ações do presidente Jair Bolsonaro, que só faz piorar a situação. Sua ignorância reflete no dia a dia dos trabalhadores e nós que vivemos na periferia, ficamos expostos a essa ignorância. Nosso país, em relação a contaminação pelo vírus, “foi ladeira abaixo”.

Mas a voz do povo foi contra a "ordem" do presidente e começamos a nos movimentar e ajudar a todos, arrecadamos cestas básicas, doações de igrejas, brechós, ações nas escolas com um olhar para o bem comum. Estamos realizando a mudança que podemos, com álcool em gel, máscara, mínimo contato, apesar de estarmos com muito medo.


Nosso país é comandado por uma voz mais forte que a nossa, e por isso mesmo sentimos tanto por não termos a vacina contra o vírus (Covid-19), pois o presidente Jair Bolsonaro não contribui para as pesquisas e não acredita nelas. Novamente o país paga por decisões individuais. Há um desespero, porque infelizmente nem todos têm acesso às cestas básicas, nem todos são empregados, nem todos podem ter o auxílio emergencial vindo do governo, nem todos!

Por mais que o país grite por uma ajuda, só venceremos quando todos colaborarem. Até lá, lutaremos individualmente. É importante entender que as pessoas estão morrendo, que médicos estão sobrecarregados, que alunos que iriam fazer a prova do Enem não estão tendo aula, porque nem todos têm internet para fazer aulas ou receber as tarefas online. Nem todos!!!!!

A gente se preocupa como aluno, pois sabemos da nossa realidade. Temos dificuldades, queremos explicações, e não queremos mais trabalhos de escola que nos sobrecarregue. A nossa voz precisa ser ouvida, pois é importante entender a nossa situação, de aluno da periferia.

O Brasil tem que dar condições a todos os seus habitantes, dar condições iguais aos estudantes. Sem discriminação. É hipocrisia pedir que isso tudo passe, e que queremos o normal de volta, pois o normal não voltará e todos devem fazer sua parte. Até lá, lutaremos contra o vírus, respeitaremos a quarentena, pois acreditamos na vida. Neste momento vejo o país sem esperança alguma, só vivendo um dia após o outro, esperando as próximas decisões que mudarão as nossas vidas.

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