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Educação ribeirinha: "Apesar dos esforços, o retorno é mínimo"

Atualizado: 9 de jun. de 2020

por Maria do Livramento Ferreira de Aviz, coordenadora pedagógica, Belém (PA)

Imagem de divulgação. Cadernos e lápis de cores variadas estão espalhados sobre a mesa, com um caderno aberto com as folhas em branco

A Escola Monsenhor José Maria Azevedo, está localizada na ilha de Caratateua (Outeiro), cujo nome tem origem em Tupi Guarani que significa “lugar das grandes batatas”, constituída por 26 ilhas, distribuído em 4 bairros, distante cerca de 30 km do centro de Belém do Pará, é cercada de Rios e igarapés de água doce que corre a menos de 100 metros da escola. A ilha está situada no Centro Leste e ao Oeste do Município de Belém, possui em média de 80 mil habitantes, e faz parte da Região Insular de Belém do Grão Pará – Brasil. Pertence ao distrito de Icoaraci, com sede administrativa de Outeiro – DAOUT.


A ilha preserva tradições culturais rurais e ribeirinhas, típicos das paisagens amazônicas e tem como base da economia local, o turismo, o açaí, a pesca, o comércio e serviços públicos. Nesse contexto, se insere a Escola Monsenhor Azevedo, no bairro de Itaiteua, área de difícil acesso, mas bastante movimentada, não só pela escola, mas pelas opções de lazer característicos da região. Contudo, em tempos de pandemia, essa realidade mudou. Ainda no mês de março, ainda que preocupados, as pessoas, não se davam conta das incidências e risco do COVID-19.


As atividades escolares ocorriam normalmente, quando fomos tomados de surpresa pelo primeiro caso nas redondezas da escola, ainda assim, continuamos trabalhando. Somente a partir do dia 22 de março, foi que a fixa caiu. Então, reunimos e planejamos juntamente com os professores, de como funcionaria as atividades escolares. Nisso tudo, incluía uma escala com dias e horários de quem iria para a escola. Mas os professores juntamente com os coordenadores pedagógicos, de se organizarem para elaborar atividades pedagógicas para ser entregue aos pais de alunos na secretaria.


Nesse mesmo período, a Secretaria de Educação – SEMEC determinou que os professores se afastassem da escola. Contudo, deveriam retornar à escola sempre que for necessário para elaborar, pesquisar e produzir as atividades pedagógicas para seus alunos, ou quando forem convocados para a entrega dos kits de alimentação (a merenda escolar dos alunos). Nesse período eu fui afastada por apresentar os sintomas da COVID – 19 e por ser considerada da área de risco, algo que não tem sido fácil pra mim, e creio, que nem para os docentes.


Apesar dos esforços, não tem sido fácil. Quanto aos professores, eles têm se esforçado, trabalhado, ainda que seja em casa, mas o retorno é mínimo e os resultados não são tão positivos como se esperava. E os motivos são muitos: pais não conseguem orientar as atividades pedagógicas a seus filhos, muitos deles não sabem ler ou escrever, outros não vão buscar as atividades na secretaria da escola, outros têm que trabalhar para garantir a própria subsistência, doenças, ou até mesmo, descaso por parte de alguns.


Nesse contexto, apesar dos esforços, o sentimento é de desanimo, impotência, ansiedade, adoecimento diante da situação do caos que essa pandemia tem causado em nossa sociedade. Nesse processo, preocupados e com medo, os professores não tem feito medido esforços para atender seus alunos, a cada quinze dias, eles vão à escola para “intermediar” ou construir possibilidade de acesso à educação aos seus alunos, conforme determina a Secretaria de Educação.


Neste cenário, trabalhar a escolaridade dos alunos, não tem sido uma experiência fácil para os professores. Eu mesma tenho vivenciado essa experiência em casa com netos, e não é fácil para eles. Tenho feito o exercício, buscando dialogar e orientar as atividades escolares, incentivando a leitura, a escrita, a arte como forma de entretenimento e aprendizagem para que eles não percam de vista, a importância do papel da escola, da educação escolar e fomentar o desejo de que voltar às aulas, será uma vitória para nós.


Diante do exposto, concluo afirmando que será preciso nos reinventarmos, por nós professores e pelo nossos alunos. Mas não apenas por causa da pandemia do COVID – 19, mas pelos desafios e dificuldades que temos frente às exigências da conjuntura política, econômica e social global. Especialmente no Brasil, onde a situação é ainda pior. Fico imaginando como será o retorno à escola? Quais outros desafios que haveremos enfrentar? Mas conforme Freire (1996) observa: [...] "Pensar certo, é assumir uma postura exigente diante dos outros e com os outros, em face do mundo e de nós mesmos". Assim sendo, será desafiador, mas não podemos perder as esperanças, temos que ser fortes e sábios o suficiente para enfrentar esses novos desafios e fazer algo por nós mesmos e pelo bem de uma sociedade mais justa e fraterna.


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